Como já foi dito em outro post, neurotransmissores não atuam apenas no contato entre neurônios, mas também na junção neuromuscular, isto é, nas sinapses entre o axônio de um neurônio motor e as fibras musculares esqueléticas. Essas junções neuromusculares também são chamadas de junções mioneurais ou, também, placas motoras.
Nas figuras acimas, percebemos, à esquerda, um desenho esquemático da transmissão nervosa em uma placa motora. À direita, vemos terminações de uma célula nervosa em íntimo contato com fibras musculares.
O neurotransmissor utilizado nessa sinapse é ACETILCOLINA, sintetizado na condensação de Acetil Coenzima A e Colina dentro dos próprios neurônios motores. Embora a Acetil CoA seja produzida de pelo próprio neurônio, a colina não o é e, por isso, é necessário que a colina seja captada por transporte ativo (contra o gradiente eletroquímico) da fenda sináptica para ser utilizada na síntese de acetilcolina. A hidrólise desse neurotransmissor a colina e acetato é catalisada pela acetilcolinesterase. A colina dispersa na junção sináptica é recaptada para participar da ressíntese de acetilcolina (mais à frente, a enzima acetilc
E o que isso tem a ver com a contração muscular? TUDO !!! A despolarização da membrana pré-sináptica abre, transitoriamente, canais de Ca⁺⁺ que entram no axônio pré-sináptico e promovem a fusão das vesículas sinápticas. Quando essas vesículas esvaziam, por exocitose, seu conteúdo na fenda sináptica, a acetilcolina difunde-se por essa e pode ligar-se aos seus receptores específicos da membrana da célula muscular, da placa motora. Quando a acetilcolina se liga a seus receptores específicos, a permeabilidade ao K⁺ e ao Na⁺ da membrana pós-juncional é bastante aumentada. A entrada dessas correntes iônicas à célula muscular promove um potencial da placa motora (PPM). Esse potencial se propaga pela fibra muscular pós-juncional, porém é rapidamente finalizado pela hidrólise da acetilcolina pela acetilcolinesterase. A partir de então, o cálcio armazenado no retículo sarcoplasmático dessas células é liberado e se liga à troponina, que altera a estrutura da tropomiosina, o que permite a interação actina/miosina e, assim, a contração muscular acontece! (Leia mais sobre CONTRAÇÃO MUSCULAR no blog "Bioquímica do Exercício". CLIQUE AQUI!!)
A Miastenia Grave é uma disfunção neuromuscular caracterizada por fraqueza e fadiga muscular esquelética. É uma doença auto-imune na qual o paciente possui anticorpos circulantes contra a proteína receptora para acetilcolina. Dessa maneira, embora a acetilcolina seja produzida e liberada normalmente na fenda sináptica, a quantidade de receptores disponíveis na membrana pós-sináptica é bastante reduzida, pois os anticorpos induziram a célula muscular a endocitarem os mesmos. Para piorar, esses receptores também perdem parte de sua eficiência, pois os anticorpos dificultam a junção neurotramissores + receptor. A acetilcolina é, então, hidrolisada pela acetilcolinesterase e a colina é recaptada para que o neurônio pré-sináptico faça a ressíntese desse neurotransmissor. Uma queda na eficiência na transmissão neuromuscular em diversas junções neuromusculares é o que resulta em fraqueza e fadiga muscular e, portanto, o paciente não consegue manter contrações musculares prolongadas.
Pacientes com MG apresentam um prognóstico muito bom, pois os tratamentos evoluíram bastante nos últimos anos e proporcionaram ao paciente uma vida totalmente produtiva. Eles consistem principalmente em inibidores da acetilcolinesterase, fármacos também chamados de anticolinesterases. Essas drogas inibem a ação hidrolítica da enzima acetilcolinesterase e, assim, a oferta de neurotransmissor para as placas motoras é mais intensa e ocorre por um maior período de tempo, o que melhora a função muscular, antes debilitada. Também são ministrados medicamentos imunossupressoras que reduzem o processo auto-imune e, portanto, a doença é amenizada.
O vídeo abaixo é MUITO interessante! O cachorro-protagonista apresenta Miastenia Grave (MG) e, de início, tem bastante dificuldade para locomoção, pois suas junções neuromusculares estão debilitadas por essa doença auto-imune e, portanto, não consegue manter contrações musculares prolongadas, além de apresentar muita fadiga (percebe-se a preguiça desse dog!). Mais a frente (a partir do 23seg), é ministrado ao cachorro um medicamento principalmente composto por anticolinesterases e, como explicado acima, podem-se fazer as contrações musculares normalmente. É QUASE UM MILAGRE!
Espero que tenham gostado !
Abraços,
Felipe Martins - MED91
Referências Bibliográficas:
- BERNE, R. M.; LEVY M.N. Fisiologia, 4ª. ed., Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2000
- HARRISON′S. Principles of Internal Medicine. 17ª Edição. McGraw-Hill, 2008
- http://en.wikipedia.org/wiki/Neuromuscular_junction
- http://www.youtube.com/watch?v=k7YX9kuWrxA&feature=player_embedded
Nossa! Realmente incrível o vídeo! A minha dúvida é só uma... se voce aumenta a quantidade de neurotransmissores na fenda sinaptica, isso não provocaria a longo prazo uma sensibilização nos neurônios pre-sinápticos, ou uma resistência nos receptores musculares.
ResponderExcluirExcelente explicação, continuem com esse trabalho!!
ResponderExcluirótima explicação, deu para clarear as minhas duvidas, parabéns pelo trabalho de vocês.
ResponderExcluirAdorei o blog. Tenho MG.
ResponderExcluirAdorei o blog. Tenho MG.
ResponderExcluirMuito Bom......Me ajudou muitissimo!
ResponderExcluirE possível um exame de acetilcolina dar resultado positivo. Sem a pessoa esta com miastenia? res. 0,54.
ResponderExcluirMuito bom, pena que o milagre não é bem assim rsrs. Além disso o uso do inibidor da colinesterase pode provocar sérios problemas. No mínimo espasmos horríveis, diarreia e câimbras... Além disso os tais remédios que podem ser utilizados e fazer um miastenico ter uma vida "normal" ainda estão para serem desenvolvidos, pois isso só é possível para quem tem a miastenia em grau bem leve, no mais, não é bem assim. E por fim, estudo e aprendo muito com seus posts, porém uma das lutas do miastenico é explicar que não tem preguiça, assim como o cachorro, não , não é preguiça quando quero pentear meu cabelo sozinha, tomar banho, ou me levantar da privada e não tenho forçar musculares para fazer...simplesmente não consigo, assim como ele não conseguia andar, então...deixo aqui minha contribuição sobre viver com a miastenia e agradecimento pelas preciosas informações técnicas.
ResponderExcluirmuito util seu post
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