quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ATP UM NEUROTRANSMISSOR???



Um dos primeiros e mais duradouros conceitos ensinados à maioria dos alunos nas aulas de biologia é que todas as células vivas usam uma pequena molécula chamada adenosina trifosfato (ATP) como combustível. Essa reserva universal de energia conduz as reações biológicas e permitem as células funcionarem e florescerem. Porém, poucos sabem que a molécula, talvez mais produzida e consumida no corpo humano, tem também uma função completamente separada, mas não menos essencial fora da célula: ela é uma importante sinalizadora que permite a comunicação entre células e tecidos do corpo.
Foi com Burnstock, um neurofisiologista australiano, em 1962, estudando nervos que controlam o tecido muscular liso que começaram as primeiras evidencias de que a condução nervosa não estava sendo feita pelos neurotransmissores tradicionais, acetilcolina e a noradrenalina e sim por moléculas de ATP. Por meio de experimentos em que se bloqueavam as transmissões dos neurotransmissores clássicos conseguiu-se demonstrar que qualquer sinalização continua dos nervos para os músculos tinha de ser levada pelo ATP, provando depois de uma década a existência de nervos purinérgicos que liberam ATP como neurotransmissor.
Todavia, apesar dos muitos dados revelando o ATP como um neurotransmissor muitos neurofisiologista continuaram céticos e achavam improvável a existência de uma molécula tão onipresente no nosso organismo desempenhando um papel tão especifico. E, além disso, toda molécula sinalizadora deve ter seu receptor na célula de destino que até então não tinha sido encontrada. Então começaram as buscas pelos receptores purinérgicos (purinérgicos devido a ATP ser composta por uma purina) e em 1978 surgiu a primeira proposta para a existência do receptor de ATP P2 com seus subtipos P2x e P2y e do receptor de adenosina P1.(vide figura acima)

Assim, duas amplas classes de receptores foram identificadas e também seus muitos subtipos que vieram a ser descoberto com o passar do tempo. Essa diversidade então significava um potencial imenso de criações de drogas especificas que poderiam ser usadas para inativar esses receptores modulando a atividade dos sinais gerados pelo ATP em tecidos ou células especificas, originando uma grande idéia que esta sendo bastante explorada atualmente para criação de fármacos.(vide figura abaixo)


Os estudos se aprofundaram e os pesquisadores elucidaram parcialmente a função dos receptores: os P2x são pertencentes a uma superfamília de canais iônicos seletivamente permeáveis aos transmissores e quando ligados ao ATP se abrem para formar um canal para entrada de sódio e cálcio na célula e já os P2y não abrem porem o ato ligado a sua superfície extracelular inicia uma cascata de interações que resulta na liberação do cálcio interno, cálcio este que inicia eventos moleculares notáveis que alteram o comportamento da célula: uma enxurrada de íons cálcio entrando na célula pelos canais P2x, por exemplo, pode levar a célula a liberar outros neurotransmissores ou pode alterar a atividade de genes envolvidos na divisão celular.(vide figura ao lado)

Com isso foram se desvendando o papel do ATP no corpo e nos 5 sentidos. No olho, por exemplo, os receptores de ATP das células nervosas da retina influenciam nas respostas celulares nos cones e bastonetes, no ouvido cerca de metade das 50 mil células ciliadas da cóclea possuem receptores de ATP, nas papilas gustativas os receptores P2x medeiam o sabor, no tato a ativação dos receptores P2x3 medeiam as resposta ao toque e a dor e por ai vão várias outras funções dos diversos subtipos de receptores.
E, assim, para concluir mais uma postagem do blog fica a mensagem de que por mais concreta e incrustada esteja uma idéia já formulada, como que o ATP é apenas uma molécula energética do corpo, temos que expandir horizontes, desapegar de conceitos pré-formulados e trabalhar com o improvável para fazermos novas descobertas e indagações.

bibliografia:
revista scientific american vol. 301
http://en.wikipedia.org/wiki/Neurotransmitter
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16487603
http://www.google.com.br/images?q=atp%20as%20a%20neurotransmitter&rls=com.microsoft:pt-br:IE-SearchBox&oe=UTF-8&rlz=1I7GGLL_en&redir_esc=&um=1&ie=UTF-8&source=og&sa=N&hl=pt-BR&tab=wi&biw=1003&bih=610


Abraços,
Bruno Lopes med91unb

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